O termo "Buckfast®" foi usado pelo irmão Adam, em publicações ou artigos relacionados com o seu trabalho de seleção (uma abelha produzida na Buckfast Abbey®). O motivo para o registo da marca Buckfast® é evitar possível degradação, devido à incompetência ou ignorância do "auto-proclamado" criador Buckfast® . Em Portugal serve para que ninguém se aproprie do nome Buckfast® inadequadamente, tendo como objetivo a união de criadores para reproduzir o mais próximo da qualidade das rainhas fornecidas pelo irmão Adam.

VISITA AO CRIADOR PAULO GONÇALVES E À ESTAÇÃO DE ACASALAMENTO DIRIGIDO


UM DIA COM ABELHAS BUCKFAST 



João Manuel Esteves
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O Magnífico Norte




















No final de junho de 2019 tirei uma semana para viajar pelo norte do país. Passámos por Mangualde e pelo distrito de Viseu, descemos o vale do Douro pela margem sul, visitámos aldeias e lugares das serras do Gerês e da Peneda. Enchemos os olhos de paisagens encantadoras, de belos exemplos arquitetónicos das nossas vilas e aldeias, do nosso passado, da nossa história e das nossas gentes, afáveis e acolhedoras... para não falar na comida. A viagem terminou em Melgaço e não foi por acaso. Estava combinado um encontro com o Paulo Gonçalves, personalidade incontornável da associação Buckfast portuguesa. Uma visita de amizade, trabalho e estudo (3 em 1).


Apiário 1





















Passámos a manhã do dia 29 nos apiários do Paulo.

Visitámos primeiro aquele em que está o material genético Buckfast.

Muito bem localizado, numa encosta íngreme, ensombrada por árvores altas que protegiam das horas de maior calor.

Abrimos colmeias e mais uma vez constatámos a docilidade das abelhas e como é fácil manuseá-las sem o recurso a fatos de proteção ou fumo. Durante as manipulações elas mantiveram-se calmas, nos quadros, fazendo o que tinham a fazer, sem parecer importar-se muito com a intromissão. As abelhas não levantavam dos quadros e não havia qualquer tentativa de ataque ou mesmo de desconfiança. Este comportamento facilita sobremaneira as intervenções. Tudo se torna mais fácil, confortável e até prazeroso.

Outra qualidade destas abelhas é a pouca tendência para enxamear. Pode-se contar com um elevado grau de certeza que, no primeiro ano de postura da rainha, a colónia não vai enxamear e muitas colónias não enxameiam nunca durante toda a vida da rainha. Quando ela chega ao fim de vida, a colónia substitui-a sem enxamear.

Esta é uma vantagem muito grande em termos de maneio: são necessárias menos visitas ao apiário durante o período de enxameação e há menos perdas de produção devidas à saída de enxames. Esta é uma vantagem tanto maior quanto maior for o efetivo. Os benefícios são óbvios quando se tem 100 ou 200 colmeias, mas tornam-se imprescindíveis quando se tem 500 ou mil.
Falámos muito de inseminação instrumental e de processos de seleção. O Paulo usa basicamente velhas linhas Buckfast selecionadas pelo irmão Adams (Old Buckfast). Os zângãos usados tanto para inseminação como na estação de acasalamento dirigido são da linhagem Sinop, muito consolidada e de valor reconhecido. Talvez a linhagem mais utilizada pelos criadores Buckfast em linhas de zângãos.

Antes de passarmos ao apiário seguinte, a poucos quilómetros dali, ainda recolhemos a rainha que eu lhe tinha enviado para fertilização instrumental, uma Athos, agora já com boa postura operculada, uniforme.



Apiário 2























O segundo apiário era um dos apiários de produção do Paulo. Aqui, bem como nos seus outros apiários de produção ele usa predominantemente abelhas F1.
  • será que há alguma vantagem na utilização de colónias híbridas na produção e essa ser a sua preferência?
  • será que é por ser difícil manter um elevado número de colónias puras num ambiente em que outras estirpes de abelhas dominam e, portanto, isso ser uma necessidade para ele?

Alguns criadores defendem que as híbridas de primeira e segunda geração podem ser mais produtivas, ao mesmo tempo que mantêm algumas das qualidades Buckfast. Não sei se é essa a opinião do Paulo.

Para a maioria dos apicultores com abelhas Buckfast torna-se complicado manter abelhas puras, mas não será esse o caso dele, uma vez que pratica inseminação instrumental e dirige a estação de acasalamento...

Fica a pergunta no ar.


Estação de Acasalamento Dirigido





















Fomos depois à Branda da Aveleira, visitar a Estação de Acasalamento Dirigido.

Fica num vale apertado com um pequeno curso de água. De acordo com o Paulo, aquelas encostas são altas o suficiente para impedir as rainhas de as transporem e serem fecundadas noutras zonas.

Os zângãos são produzidos por cerca de 30 colónias F1, todas irmãs, filhas de uma matriarca Sinop, selecionada pelo Paulo de acordo com os critérios de criação do irmão Adam.

Como é um apiário de montanha a estação começa um pouco mais tarde, com os primeiros zângãos a atingirem a maturidade sexual não antes da segunda metade de março.

O calendário é atempadamente divulgado e os preços são muito razoáveis, especialmente para os associados da Abbey — Associação Buckfast Portugal.





















A Estação Buckfast de Acasalamento Dirigido:
  • É uma peça fundamental para os apicultores portugueses e espanhóis amantes da abelha Buckfast, especialmente para os que estão mais perto daquela região de Melgaço. Sem essa ferramenta, o apicultor ou compra sistematicamente rainhas para substituição ou recorre à inseminação instrumental, adquirindo para isso o equipamento e os conhecimentos necessários para a fazer ele próprio ou compra o serviço de inseminação a quem o venda. Qualquer destas alternativas é mais dispendiosa do que a utilização da estação de acasalamento que é também o processo mais prático: o criador manda ou leva as suas rainhas virgens nos núcleos de acasalamento para a estação e recebe-as de volta ou recolhe-as ele próprio, depois de verificada a postura pelo operador da estação, neste caso o Paulo, que faz também as verificações à chegada e trata da receção e envio quando necessários.
  • Credibilidade. É a Associação Buckfast Portugual e os seus associados que lhe dão suporte e atestam a qualidade da linha de zângãos utilizada. Quando se compram rainhas Buckfast em Portugal, a preços razoáveis, as garantias de qualidade são frequentemente duvidosas e as que se importam de criadores conceituados são demasiadamente caras para um programa consistente e continuado de substituição de rainhas. A estação de acasalamento é a única opção séria para quem quer manter abelhas puras, se não se quiser ou puder fazer inseminação.
  • Risco de contaminação genética — O maior risco numa estação de acasalamento é a contaminação genética. Manter o perímetro de acasalamento livre de contaminação é o maior desafio. Esta é uma tarefa contínua e permanente. O Paulo sabe-o e certamente que faz tudo por isso, mas a delimitação de uma área de proteção com um raio de 10 quilómetros em torno da estação é a única forma segura de manter uma estação de acasalamento a funcionar com garantias e isso, só as autoridades competentes podem determinar. Os trâmites legais foram iniciados; esperemos que as autoridades competentes reconheçam a extrema necessidade que ela representa para os apicultores Buckfast em Portugal e deem a sua aprovação. Compete-nos a nós, apicultores interessados, fazer pressão nesse sentido. Cada um individualmente na sua esfera de ação, nos seus contactos pessoais, nas redes sociais, expressando a sua opinião e necessidade, por exemplo, mas também enquanto associação, definindo uma estratégia de “lobbying” que promova a ideia e influencie opiniões nos sítios e pessoas de decisão. Somos poucos, é um facto, precisamos de ser mais, de fazer a Associação Buckfast Portugal crescer para ser mais influente. Precisamos de valorizar o que nos une e desenvolver um trabalho de qualidade também na melhoria das abelhas que usamos e produzimos, nomeadamente nas suas qualidades de comportamento higiénico e de tolerância à varroa. Aqui também a estação de acasalamento pode ter um papel determinante.























Antes de voltarmos a Melgaço para o almoço, ainda tivemos tempo para uma prova de mel. O Paulo tirou, de um quadro com mel operculado, umas amostras para provarmos o mel produzido na estação. Para mim foi uma revelação: o sabor era distinto de tudo quanto já tinha provado antes, muito doce e de cor muito clara. (O néctar dominante naquele mel é da abrótea, Asphodelus albus.)


Amizade e Boa Mesa

De volta a Melgaço, almoçámos juntos à volta de boa comida e boa conversa.

Fizemos planos para o futuro próximo e falámos um pouco de tudo e de nada.

Pena que a Carla Esteves, presidente da Abbey, não pudesse estar presente. Teve de fazer a cobertura foto jornalística de um evento de ciclismo. Nós vimos os ciclistas passar, bem sentados, através das montras do restaurante... enquanto nos deliciávamos com a bela comida minhota... Felizardos!

Obrigado Paulo! Foi um prazer!

Até à próxima!